dos 11 aos 13: não te afastes

dos 11 aos 13: Editorial Caminho

Caros seguidores. Somos fãs do David Machado. Temos a biblioteca completa, de que fomos falando aqui, incluindo os projetos mais pequenos e menos destacados. Quando soubemos do novo livro, da temática inusitada e, para mais, embrulhado num design 502x (1)delicioso pelo ilustrador e designer Alex Gozblau, não pudemos deixar de ler. E com a gentiliza da Caminho, pudemos fazê-lo.

Foi, naturalmente, a Mãe do Pequeno Leitor que o leu. Ainda é um texto ambicioso, de facto. Extenso, complexo, lidando com emoções igualmente complexas às quais o Pequeno Leitor, felizmente, ainda não teve acesso. Mas a Mãe do PL não quis deixar de partilhar com o filho o que lia – como de resto faz sempre – ainda que de forma mais abreviada.

E muito abreviadamente, esta novela de David Machado abre com um cenário completamente apocalíptico. Tomás, de 12 anos, fugido de casa, é apanhado numa tempestade violentíssima que alaga um território inteiro. O cenário é catastrófico: estradas alagadas, pessoas mortas nos carros, árvores caídas e infraestruturas desfeitas. Sabemos na abertura que o pai de Tomás morreu, depois de cair do cavalo e bater com a cabeça. E acreditamos – como o protagonista acredita também – que a culpa foi de Tomás. É por isso que foge: sente que a sua presença no mundo é o bastante para atrair o mal para os que o rodeiam, e é por isso que sai de casa.

Mas o pai falecido acompanha-o na aventura. Um homem calado em vida, faz vibrar a sua voz na memória e no coração de Tomás que usa a sabedoria pragmática do pai para sobreviver aos desafios reais que se lhe apresentam. É socorrido por um homem de alguma idade, retido num piso elevado de um prédio. Mas em vez de ficar com ele à espera de socorro, insiste em voltar para a mãe, para saber se sobreviveu e porque começa a perceber aos poucos que deixá-la foi o pior erro que cometeu.

Acontece então o que menos esperamos. Tomás encontra uma carrinha, ouve barulho e pensa que está alguém preso dentro dela. Mas trata-se de um rinoceronte bebé, pilhado do zoo, para satisfazer os caprichos de um qualquer rico por aí. É confrontado pelo ladrão que o ameaça, mas foge. E o rinoceronte segue-o. Este animal torna-se um companheiro de viagem improvável mas resiliente e fiel. Transporta Tomás, ajuda-o, torna-se uma espécie de eco das descobertas pessoais que o protagonista vai fazendo. Regressando a casa, por uma terra desabitada, cruzam-se e ajudam um homem a recuperar a filha, enterrada nos escombros de uma casa. E deste episódio sai a revelação final: a morte do pai do Tomás foi acima de tudo uma infelicidade tremenda, mas não necessariamente culpa dele. O pai foi a meio da noite à procura do filho que tentava recuperar as ovelhas tresmalhadas para impressionar o pai. Mas o ter caído e morrido foi apenas um azar com que Tomás terá de viver, se quiser avançar no processo de luto.

É um livro pesado. Muito na linha das cenas finais do Índice Médio de Felicidade. David Machado tem jeito para retratar a angústia. E quando pensamos que este nível de angústia é exclusiva dos mais velhos, vemos que afinal um menino de 12 anos, profundamente abalado pela morte do pai, a sabe sentir como ninguém.

No final acaba tudo bem, ou seja, sobrevive-se. O destino do rinoceronte não é claro, mas fica claro que não é o destino que importa e sim o percurso que ajudou o jovem a fazer.

Impressionante. Lido de uma assentada. Um livro de maturidade para jovens que estão no ponto de viragem para a vida dos mais crescidos.

Mais, aqui.

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